Nas últimas semanas, as dificuldades em avançar com a Proposta de Emenda à Constituição – PEC, que permite ao presidente eleito furar o teto de gastos públicos, para bancar promessas de campanha acirraram e expuseram disputas internas do PT.
É consenso no partido que há problemas na articulação da proposta, que deve começar a tramitar no Senado. O diagnóstico, porém, dividiu deputados e senadores. A bancada na Câmara tentou puxar o início da tramitação da PEC para a Casa Baixa na última semana, desagradando aos senadores do partido.
Além disso, há descontentamento de petistas com o senador eleito Wellington Dias (PT-PI). Diversos correligionários, reservadamente, colocam na conta dele o fato de a PEC ter empacado. Em algumas conversas também sobra para o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA).
Wellington é tido como um dos petistas politicamente mais hábeis e um dos nomes de confiança de Lula. Foi o escolhido pelo presidente eleito para tocar a articulação da PEC com ajuda do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB). Apesar de ser um aliado recente do PT, Alckmin até agora tem sido poupado de críticas até nas conversas reservadas.
A disputa entre as bancadas foi explicitada pelo senador Jaques Wagner (PT-BA) e pela presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR) na última quinta-feira (24). Pela manhã, Wagner cobrou a indicação de um ministro da Fazenda.
Disse que a nomeação facilitaria as negociações da PEC, e que o problema de articulação não era só dos senadores petistas. À tarde, Gleisi rebateu o correligionário ao atribuir as dificuldades à falta de articulação política no Senado.
Segundo a dirigente, o texto foi apresentado sem que o governo eleito tivesse ainda uma base de apoio forte entre os senadores. Na transição, a deputada é a coordenadora da articulação política do gabinete temporário do presidente eleito. Gleisi e Wagner se reuniram com Lula, em São Paulo, nesta sexta-feira (25).
E, além de discutir detalhes do texto, o encontro também serviu para tentar apaziguar os ânimos internos. O novo governo defende que sejam retirados do teto de gastos R$ 198 bilhões para bancar os R$ 600 do Auxílio Brasil em 2023 e para ajustar o orçamento de outros gastos sociais. Querem que a vigência das regras valha por 4 anos.
Líderes do Centrão, porém, já disseram que só topam a aprovação da PEC se a validade do texto for de 1 ano e com um valor próximo a R$ 80 bilhões. Além disso, o grupo quer negociar diretamente com Lula, que terá a caneta na mão em 2023, e não com seus aliados.
A falta de acordo fez com que a apresentação oficial da PEC fosse postergada ao longo das últimas semanas. Agora, a expectativa é que o texto seja divulgado na próxima terça-feira (29).
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Poder 360