As secretarias de Saúde de pelo menos 16 unidades da Federação apresentam dificuldades para mapear categorias de profissionais que mais deram entradas em hospitais por causa da Covid-19, ainda que o sistema de notificação da doença permita a indicação da ocupação do paciente ao fazer o registro no serviço de saúde.
O problema foi identificado em: Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. As secretarias de Saúde do Acre, Amapá, Amazonas, Ceará, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins não retornaram o contato feito pelo Poder360.
Segundo o Ministério da Saúde, o procedimento de informação de casos e óbitos da Covid-19 segue de acordo com a Classificação Brasileira de Ocupações -CBO para sinalizar a profissão, mas o preenchimento da informação não é obrigatório. Por isso, “não é possível realizar um levantamento exato de dados com o recorte de profissões”, informa a pasta.
Os estados reúnem os registros de profissionais de saúde e das Forças Armadas que contraíram ou foram internados pela doença. . Exemplo disso é o Distrito Federal, que observa só possuir os registros dos pacientes em tempo real. Segundo a epidemiologista Ethel Maciel, o recorte por profissão é fundamental para ajudar a traçar prioridades, enquanto não há vacinas disponíveis para todos os brasileiros.
De acordo com ela, o grupo de trabalhadores essenciais inclui muitos jovens que se movimentam pela cidade, andam de transporte coletivo e ficam expostos ao público, como os atendentes de comércio. Para a pesquisadora, os dados seriam necessários para analisar “se valeria a pena abrir a campanha de vacinação para esses grupos (serviços essenciais)”.
“Seria importante saber por profissão quem é que está se expondo e morrendo mais para poder começar a trabalhar por grupos profissionais ao invés, talvez, de por idade”, afirma a epidemiologista. Ela diz ainda que, o mapeamento auxiliaria na promoção de políticas públicas e de outras ações de prevenção direcionadas a grupos específicos. O recorte possibilitaria também o entendimento da evolução da Covid-19, no País e se os contágios ocorrem dentro ou fora de casa.
“É um dado importante em qualquer tipo de doença. A principal relação causal é com o grau de movimentação de pessoas. Quanto mais elas se movimentam, maior a chance de encontrar uma pessoa infectada”, alerta Gonzalo Vecina, médico sanitarista e ex-diretor da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). “É relevante e deveria ser seriamente preenchido”, completa.
Segundo Vecina, o Brasil adotou o modelo do plano de imunização do hemisfério Norte, que deixa os jovens no fim da fila na campanha de vacinação, como é feito nos Estados Unidos e Reino Unido. No entanto, o planejamento não se aplica integralmente à realidade brasileira.