ANTONIO MAGALHÃES: A MORTE EM VIDA DE JOAQUIM FRANCISCO

Por: Antonio Magalhães – jornalista

A hegemonia da esquerda na cena política nacional por mais de um quarto de século fez um estrago no País. As forças políticas conservadoras e à direita foram esmagadas em todos os campos. Sem vez e sem voz. Só com a chegada das redes sociais foi possível inicialmente ouvir os sussurros dos reprimidos e depois a voz tonitruante de uma grande parcela da sociedade que finalmente teve vez e voz.

Mas, infelizmente, os homens vivem seus tempos e suas circunstâncias. Presos a eles sem muita mobilidade no exercício da liderança, como foi o caso do ex-governador de Pernambuco Joaquim Francisco, falecido esta semana aos 73 anos, no Recife. Fosse hoje, Joaquim, com uma brilhante carreira de homem público e bom de voto no auge da sua carreira nos anos 80 e 90, teria condições de assumir a liderança desse campo político que esteve órfão por muito tempo.

E por que isso não aconteceu na época em que ele era a principal voz dos conservadores ou da direita? Tem-se que buscar uma explicação mais entre seus aliados do que entre os adversários. Ao contrário da esquerda que é capaz de seguir cegamente um líder, os direitistas detém um alto grau de individualismo, onde cada um se acha maior do que o outro. Joaquim foi secado por grupos próximos que não viam a hora de puxar seu tapete.

Os maus bofes de ex-governadores e parlamentares deram espaço para a inveja da disposição de Joaquim Francisco de estar próximo ao povo. Circulando por periferias e interior com um jeitão matuto peculiar de quem entendia de gente. De prefeito biônico da Capital (1983-1985), indicado pelo chato Roberto Magalhães, ele topou depois enfrentar as urnas se saindo bem novamente para a prefeitura do Recife (1988-1990).

Entre as passagens pelo executivo foi deputado federal por três mandatos. Ministro do Interior e governador de Pernambuco (1991-1994). Uma liderança ascendente e habilidosa no trato de aliados e adversários, só comparável mais recentemente com a do ex-governador Eduardo Campos, com quem se entendeu muito bem num determinado momento político. Os semelhantes se reconhecem.

Mas Joaquim viu seu povo lhe trair, não lhe dá espaço político, a ponto de não deixar o governo do Estado para se candidatar ao Senado – quase uma tradição política – por conta da falta de confiança em quem ia governar Pernambuco depois da sua saída para disputar a vaga.

A partir daí ainda teve mais dois mandatos federais. Mas os secadores de plantão – e não seus adversários de campo político – começaram a esvaziar sua liderança. Nos anos 2000, esses “amigos” ainda quiseram lhe empurrar um mandato de vereador do Recife. Um Joaquim que pensava grande não poderia terminar sua carreira como um simples representante municipal, um cargo onde geralmente os políticos iniciam a carreira.

A liderança de Joaquim foi perdendo força. Pelos partidos que andou foi mais uma figura emblemática de uma era política extinta do que mesmo o homem que decidia e agia na busca por votos legitimadores da sua ação. Seu tempo passou e poucos lhe deram a mão. Seu foco então concentrou-se nos comentários radiofônicos e entrevistas jornalísticas, onde seria ouvido pela massa que lhe admirava.

Por falta de compreensão, egoísmo ou má fé, o campo político não esquerdista, conservador e à direita, perdeu um líder nato que poderia rivalizar, dentro da sua área, com Miguel Arraes e Eduardo Campos.

Esses chorosos que lamentaram publicamente sua morte poderiam fazer um exame de consciência e dimensionar o que realmente foi perdido com a morte em vida de Joaquim Francisco e sua morte morrida nesta semana. Joaquim saiu da vida para entrar na história política de Pernambuco. É isso.

*Jornalista

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *