A associação de Assistência À Criança Deficiente -AACD anunciou que vai fazer cortes no número de atendimentos mensais e que não deve mais receber novos pacientes de outros estados. Além disso, a instituição informou que suspendeu a entrega mensal de 330 cadeiras de rodas que eram distribuídas de forma gratuita aos pacientes em tratamento.
A AACD no Recife fica localizada na Avenida Advogado José Paulo Cavalcanti, no Bairro de Ilha Joana Bezerra, no Centro da capital pernambucana.
“A renovação do nosso convênio foi em agosto e o Estado reduziu em mais de 40% o nosso faturamento de repasses. Desde o mês de abril, a gente vem sinalizando que isso precisa ser revisto”, afirmou a gerente administrativa da associação Luciana Martins.
Segundo a instituição, o valor recebido saiu de R$ 949.226,30 para R$ 557.394,49. De acordo com Gerente, o local realiza cerca de 7 mil atendimentos por mês e tem mais de 2 mil pacientes em tratamento. A redução nos atendimentos deve ser gradual, mas a previsão é de que o local passe a realizar cerca de 4 mil atendimentos mensais.
“Nossos pacientes precisam desses itens de oficina e muitos a gente não está mais conseguindo prover, tipo as 330 cadeiras mês que a gente entregava e hoje a gente não entrega mais nenhuma”, contou. Segundo ela, a instituição protocolou, desde abril deste ano, pedidos para revisão do orçamento, mas não obteve resposta do governo estadual.
“Fomos recebidos por uma secretária-executiva que disse que ia analisar, mas, até o momento, não houve nenhuma reversão […] No início a gente pedia esse apoio para continuar entregando as cadeiras de rodas, mas além de nos derem um posicionamento negativo, eles ainda tiraram um incentivo de microcefalia que vinha diminuindo o déficit do centro de habilitação”, contou.
Inaugurada em 1999 para atender a demanda de pacientes das regiões Norte e Nordeste do Brasil, a Unidade Recife era, até então, a segunda maior em volume de atendimentos.
Cada paciente, custa à AACD R$ 115 por consulta clínica. A instituição, no entanto, recebe apenas R$ 10 desse valor. “No ano que vem, a gente já está projetando mais de R$ 5 milhões negativos. Este ano, a gente já está em mais de R$ 2,1 milhões negativos”, explicou
A falta de orçamento preocupa também as famílias que são atendidas pela instituição. Muitas delas são pacientes por anos, como é o caso de Douglas, que mora em Feira Nova, no Agreste, e nasceu com má formação congênita.
A mãe dele, que se identificou como Lucilene, contou que o filho recebe tratamento da instituição desde 2008. “Ele era cadeirante e agora está andando depois da reabilitação que fez aqui no centro. Foram diversas cirurgias, fisioterapia… Foi aqui que a gente recebeu apoio e segue até agora”, disse a mãe.
Identificado como Bernardo, ele também recebe tratamento no local há anos e vem de outro município, Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata, para receber atendimento na AACD.
Ele já fez 19 cirurgias sem gastar nada, tudo pela a AACD. Ele não andava, não ficava nem em pé, depois das cirurgias e do acompanhamento que ele faz aqui ele já está conseguindo ficar em pé, andar, coisa que ele não fazia antes”, contou a mãe de Bernardo, que não falou seu nome durante a entrevista ao Bom Dia PE na última sexta-feira (10).
NOTA DO GOVERNO DO ESTADO
Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES), informou que a redução no dinheiro que a AACD recebia do Estado aconteceu porque muitas crianças nascidas com microcefalia, por conta da zika, tiveram alta e não foi mais possível justificar esse dinheiro que era repassado.
O órgão também informou que, em uma das reuniões com a AACD, solicitou informações sobre o serviço e quais são as necessidades para que, em conjunto, pudessem ser analisadas vias legais para garantir o pleno funcionamento do local.
“Importante informar, ainda, que, além de repasses do Ministério da Saúde, a AACD também recebe recursos do tesouro estadual e que não existem pendências financeiras”, escreveu a Secretaria.
A SES declarou que “foi explicitada a necessidade de organizar o fluxo de atendimento para o serviço, por meio da Central de Regulação Ambulatorial, tanto a estadual quanto a federal. Atualmente, nenhum atendimento do local é regulado pelo Estado”.
Quando questionada sobre a suspensão da distribuição de cadeira de rodas na instituição, a Secretaria disse que “é preciso ratificar que essa é uma problemática nacional devido à falta de atualização da tabela do SUS, sob responsabilidade do Ministério da Saúde”.
A SES disse, ainda, que sabe da relevância da AACD para a assistência à pessoa com deficiência em Pernambuco e que está empenhada em manter a parceria e o diálogo permanente com a instituição.
Fonte: G1 PE
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