A política brasileira é cheia de planos bizarros de governantes e de oposicionistas. Cada um que detém o poder quer perpetuá-lo de alguma forma, intrigando o adversário para afastá-lo de qualquer possibilidade de ascensão. E na oposição criando uma situação desconfortável para eliminá-lo.
O serviço secreto de Getúlio Vargas, por exemplo, forjou em 1937 o Plano Cohen, uma suposta tentativa de tomada do poder por parte dos comunistas. Ele foi denunciado por Vargas nas rádio e utilizado como justificativa para o golpe de Estado que instalou a ditadura do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937. Anos depois, comprovou-se a falsidade do plano e que sua real intenção era servir de justificativa para Getúlio Vargas instalar uma ditadura no Brasil.
Já nos tempos atuais, tempos de fake news, pós-verdades e outras mentiras, o jornal O Estado de S.Paulo divulgou com ares de grave denúncia um “paper” produzido por institutos de militares reformados que apresenta seu “Projeto de Nação, O Brasil em 2035”. Um documento aberto que aborda 37 temas estratégicos.
Trata de geopolítica, governança nacional, desenvolvimento, ciência, tecnologia, educação, saúde, defesa nacional e segurança. A Amazônia é citada dentro do tema Defesa Nacional, no capítulo Integração da Amazônia no Brasil.
A reportagem do Estadão, jornal de oposição radical ao atual Governo Federal, avalia o plano como uma manobra continuísta de poder, embora tenha sido explicitado que se o atual grupo perder a eleição o “paper” será jogado fora. O projeto sem novidade para quem se informa além do Jornal Nacional diz que a Nação está ameaçada pelo “globalismo”, no qual a elite financeira mundial patrocina a desestabilização dos estados nacionais.
E o jornal toca o terror afirmando que o documento prevê que a classe média deve pagar mensalidades nas universidades públicas e pelo atendimento no SUS. A cobrança deve começar em 2025. Uma questão que já vem sendo discutida em diversos fóruns. Paga universidade quem pode pagar e quem tem plano de saúde terá que cobrá-lo para ressarcir a saúde pública. Mas o jornal vende a história como uma proposta do segundo mandato de Bolsonaro para pôr fim à saúde gratuita e universal.
Na Educação, o grupo demonstra, de acordo com o periódico, ainda o desejo de limitar o debate acadêmico e a liberdade de cátedra, garantidos pela Constituição, impondo sua visão de mundo a estudantes e professores.
O projeto traça o seguinte cenário para 2035: “Os currículos foram ‘desideologizados’ e hoje são constituídos por avançados conteúdos teóricos e práticos, inclusive no campo social, reforçando valores morais, éticos e cívicos e contribuindo para o progressivo surgimento de lideranças positivas e transformadoras”. Tudo que a esquerda não quer em seus domínios gramscianos.
Está aí o Plano Cohen número dois criado pelo Estadão para assustar os brasileiros, induzindo-os ao afastamento do presidente malvadão que supostamente vai distribuir maldades entre nosso povo. Quando, na verdade, a intenção da reportagem é aterrorizar para favorecer a oposição com um documento produzido por militares reformados que pode vir a ser utilizado ou não, pois não há qualquer compromisso para que isso aconteça.
Os planos bizarros, criativos e, às vezes, mentirosos de permanência no poder fazem parte da política. O grupo tucano de Fernando Henrique Cardoso, na presidência da República entre 1993 e 2002, espalhou através de Sérgio Motta, uma espécie de porta-voz de FHC, que ficaria mandando no país por 20 anos. Não durou nem a metade disso.
Já o PT de Lula e Dilma planejava perpetuar-se por décadas. Mas o Mensalão, o Petrolão e o impeachment da presidenta cortaram a perspectiva de longevidade. José Dirceu, “o capitão do time”, se deu mal, como outros petistas.
Portanto, essa ideia de permanecer por muito tempo no poder não combina com o regime presidencialista. Por mais planos e planejamentos que os governantes façam, o imponderável na política ainda pesa muito. Quem imaginaria que um deputado federal do baixo clero chegaria a presidente da República ou que ministros do STF quisessem fazer do Palácio do Planalto um “puxadinho” da sede do Supremo na Praça dos Três Poderes? É isso.
Por: Antonio Magalhães – Jornalista