“PEDRO TU ME AMAS? APASCENTAI AS MINHAS OVELHAS!”

MONTANHAS DA JAQUEIRA – “Simão Pedro, filho de João, tu me amas?” “Sim, Senhor, tu sabes todas as coisas e sabes que eu te amo”. A pergunta foi feita três vezes e houve sempre a mesma resposta. Este foi o sinal da fidelidade do apóstolo Pedro ao Cristo Senhor.

Os rebanhos estavam insurrectos. Havia ovelhas rebeldes, ovelhas pacíficas, ovelhas sofridas, ovelhas negras, ovelhas vermelhas, comunistas, conservadoras, lobos fantasiados de cordeiro, ovelhas de bom coração, ovelhas desgarradas, ovelhas sem pé nem cabeça.

“Então, pastoreie os meus rebanhos. Apascentai as minhas ovelhas”, disse o Senhor. Apascentai os nossos rebanhos, em nome de Jesus, Maria e José, em nome de Simão Pedro e de João.

O genial Machado de Assis, reflexo nas letras da beleza sublime do seu irmão São Francisco de Assis, escreveu o romance “O Alienista”, sobre os abismos da loucura. Seguinte: filho pródigo da vila de Itaguaí formado em Medicina na Metrópole, o Dr. Simão Bacamarte voltou à terra natal para pesquisar os mistérios da alma humana e da loucura.

Construiu o hospício da Casa Verde para internar os loucos e com parafusos frouxos. Casou-se com uma mulher horrorosa para não deixar-se envolver pelos encantos femininos e dedicar-se em tempo integral às pesquisas sobre a mente humana.

Numa noite de lua cheia, recolheu como dementes uns boêmios apaixonados que faziam serenatas para as mariposas solitárias. Machado também é o inventor do Emplastro Brás Cubas, um medicamento sublime capaz de aliviar as dores da melancólica humanidade.

Dia após dia, novos lunáticos eram recolhidos ao hospício da Casa Verde: os doidos mansos, os furiosos, políticos panfletários, intelectuais, jornalistas, beletristas, poetas, padres, professores, sempre em nome da sanidade mental da freguesia de Itaguaí. Os suspeitos de serem doidos eram presos para averiguação e interrogatório. A cidade vivia em clima de pânico e de medo.

Até que os protestos chegaram à Câmara Municipal e o presidente fez um discurso de protesto. Alguns vereadores aplaudiram. O alienista Simão Bacamarte determinou que os vereadores revoltosos fossem recolhidos à Casa Verde, por razões de insanidade mental.

Os vereadores se rebelaram. Cada dia mais sábio, o Doutor Simão Bacamarte diagnosticou a todos como portadores da síndrome da demência em alto grau. Aconteceu o protesto dos Canjicas, pois era tempo de milho verde. A revolta popular se tornou incontrolável.

Para encurtar a história, um barbeiro propôs que a Casa Verde fosse demolida. Calma! A assembleia geral aprovou um gesto de benevolência ao Doutor Simão Bacamarte, para exonera-lo do ofício de julgador excelso de loucuras e a liberação de todos os presos políticos, ou seja, de todos os pacientes.

Espírito magnânimo, o Doutor Bacamarte curvou-se à decisão do colegiado. Escravo da ciência, o Doutor Simão Bacamarte decidiu, monocraticamente, internar-se no manicômio da Casa Verde para estudar sua própria loucura.

O reino de Itaguaí já está pacificado. Falta pacificar este reino de Pindorama, o nosso vale de radicalizações, de revanchismos, de vinganças, de perseguições, de abominações e de lágrimas.

Por: José Adalbertovsky Ribeiro, periodista, escritor e quase poeta

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