Vereador Zé Neto (Pros) promoveu na manhã desta quarta-feira (17), o uma audiência pública virtual para debater a questão do avanço do mar na orla da capital pernambucana. Segundo o Parlamentar, o tema se mostra de extrema importância e tem um grande impacto para a cidade.
“A ONU relatou que a capital está na 16ª posição de cidade mais ameaçada do mundo pelo avanço do nível do mar. A desigualdade social, densidade demográfica e geografia agravam a situação. Temos um patrimônio histórico do qual precisa ser protegido”.
“É importante lançar um olhar para o que causou e pode causar o avanço do mar na orla de Boa Viagem. Acredito que seja urgente reunir a sociedade sobre a necessidade de ações sustentáveis no bairro buscando soluções possíveis”, disse o Parlamentar.
O vereador Paulo Muniz (Solidariedade), por videoconferência, disse que a avenida Boa Viagem sofre com o abandono e torce pela gestão do prefeito João Campos com ações direcionadas ao local.
“Temos uma orla bagunçada e desordenada e sem banheiros públicos. A área não tem a devida atenção. É de se preocupar já que se trata de um grande ponto turístico da cidade”.
Os turistas que chegam no aeroporto do Recife já se dirigem às vans estacionadas em direção a Porto de Galinhas e outras praias. Nem vão à Boa Viagem. Estou confiante com Cintia Melo e o prefeito João Campos pelos projetos que virão”.
A Secretária de Projetos Especiais, Cíntia Melo, disse que o tema é muito difundido e a pasta vem se debruçando sobre a atualização do projeto montado há 10 anos pelo governo do Estado. “Esse estudo engloba toda a zona costeira de Pernambuco. A recomposição das faixas de areia precisa ocorrer, mas precisamos analisar o que o relatório trará em 2022”.
Também da Secretaria de Projetos Especiais, Wesley Rodrigo citou que o estudo de 10 anos atrás demonstrou que o avanço da orla ficará na ordem de 25 a 35 metros.
“Com certeza, o estudo atual vai fazer tanto uma verificação sobre esses números e, por isso, se faz tão necessária essa revalidação de dados. E também um estudo consequente de como deve se comportar um processo de manutenção posterior a essa aplicação da engorda”.
Arquiteto e Urbanista pela Universidade Federal de Pernambuco, Roberto Montezuma, citou uma apresentação sobre o Fórum Internacional Recife Exchange Netherlands (RXN), ocorrido entre 11 a 15 de outubro, de forma remota, que teve como tema “Águas Como Patrimônio: Visões e Estratégias Sobre a Elevação do Nível do Mar no Recife e nos Países Baixos”.
O objetivo do RXN foi promover um debate internacional acerca da temática das mudanças climáticas e do consequente aumento do nível do mar nas cidades litorâneas.
O conteúdo das discussões envolveu a reflexão e a concepção de soluções inovadoras, que orientarão ações de cunho prático na condução das políticas públicas no campo do urbanismo, da conservação do patrimônio e da sustentabilidade urbana.
“Recife virou um foco mundial que vem sendo estudado. A previsão é de que o ano de 2100 a água invadirá toda a cidade e uma área de 47 quilômetros a ser impactada. Infelizmente, se continuarmos assim, teremos que adotar uma das três alternativas radicais: evacuar a cidade”.
“Construir um muro ou deixar a água entrar e convivermos com ela. Ou a próxima geração vai nos ver como uma responsável ou como uma geração que abandonou o Recife. Queremos isso? Se planejarmos de forma sistêmica, teremos recursos mundiais. Nossa responsabilidade é muito grande” disse.
O professor Marcus Silva, do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco, mostrou uma apresentação sobre o nível do mar e citou o estudo do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC.
Lançado em agosto, o relatório mostra que as mudanças climáticas causadas pelos seres humanos são irrefutáveis, irreversíveis e vão se agravar nos próximos anos e décadas, se nada for feito para mudar o quadro da crise climática e ambiental.
“Esse relatório reforça que a ação humana traz uma resposta lenta. Ou seja, o que se faz hoje será sentido daqui a 100 anos. Os relatórios atuais mais otimistas preveem meio metro a mais de elevação do nível do mar no ano de 2100.
Cenários mais realistas já dizem que será meio metro em 2050 e dois metros em 2100. Recife está inserida dentro de um mangue e depende da maré para ter qualidade de vida. A resposta do oceano é lenta, daqui a 50 ou 100 anos, e as alterações serão sentidas”.
Secretário Executivo de Infraestrutura, Daniel Saboya, ressaltou que o prefeito João Campos tem estudado ações e que a Bacia do Tejipió vem sendo analisada pelo órgão. “O prefeito João Campos está ligado ao tema. Debatemos diariamente na pasta sobre no que pode ser planejado na Bacia do Tejipió”.
Após a fala de Saboya, foi dada a palavra a Pedro Oliveira, engenheiro há 40 anos da Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife – Emlurb.
“Tivemos este ano desenvolvendo trabalhos para a Bacia do Tejipió visando conter a cheia do rio. Há mais de 10 anos, a Prefeitura participa de estudos junto ao Departamento de Oceanografia da UFPE e CPRH- Agência Estadual de Meio Ambiente que possibilitam avaliar e beneficiar a nossa cidade”.
Gerente Geral de Licenciamento da Secretaria de Meio Ambiente, Rômulo Faria, disse que o Recife é protagonista no processo de enfretamento de mudanças climáticas. “E coloco nesse processo de protagonismo os poderes Executivo e Legislativo”.
Somos umas das maiores cidades impactadas com o avanço dessa catástrofe global que estamos enfrentando todos os dias. O avanço do mar é consequência, e essa questão tem várias frentes: a macro, com ações mitigadoras e a diária, com pequenas atitudes que podem influenciar na redução de emissões. E a Secretaria toda participa dessa luta”.
O vereador Alcides Cardoso (DEM) parabenizou o vereador Zé Neto pela iniciativa e informou que elaborou um Pedido de Informação à Prefeitura do Recife.
“Esse Pedido de Informação será em relação aos estudos e projetos que poderão ser implementados na cidade. Como diria o professor Roberto Montezuma sobre a possibilidade de adotar uma das três alternativas radicais: evacuar a cidade; construir um muro ou deixar a água entrar.
Não podemos!”Temos que planejar e isso requer tempo. E um tempo foi perdido em gestões passadas, mas vejo que essa gestão tem tirado do papel algumas iniciativas. Que o Recife se prepare e prepare a nossa população, pois o problema está muito claro e é inevitável”.
Ao final do evento, o vereador Zé Neto lembrou que existe na Casa de José Mariano uma iniciativa de autoria da vereadora Michele Collins (PP), para criar a Frente Parlamentar pela Orla do Recife, que pretende acompanhar as políticas públicas relacionadas ao local, como: questões climáticas, ambientais, turismo, comércio, entre outros pontos.