“CRISTO NUNCA CHAMARIA UMA MENINA DE ASSASSINA”. DIZ DIRETOR DO CISAM

    “Falta acabar com a hipocrisia. Ter compaixão, tolerância. Trocar o ódio por amor. Se você é religioso e conhece a pessoa de Cristo, sabe que não tem nada a ver com essa figura de ódio. Garanto a você que Cristo nunca chamaria uma menina de dez anos de assassina”.   As palavras do médico obstetra Olímpio Moraes mostram sua visão pragmática sobre a polêmica causada por grupos religiosos no último, quando uma criança de dez anos, moradora do Espírito Santo, grávida de um estupro praticado por seu tio, deu entrada no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros – Cisam, no Recife, para fazer a interrupção da gravidez, amparada no que rege a legislação brasileira. 

 “Quando eu cheguei ao hospital (domingo), por volta das 16h, eu não entendi o que estava acontecendo. Uma deputada, que conheço me chamou para conversar. Tentei dialogar, mas fui agredido o tempo todo. Nunca pensei que existiria tanto ódio no coração das pessoas”, relembra. “Acho que a própria sociedade irá julgar essas pessoas (da manifestação). Não vejo necessidade de dar queixa. Elas serão punidas por seu comportamento. Seria um ato de tortura manter a gravidez dessa criança. Enquanto isso, não vejo essas pessoas preocupadas em ir atrás do estuprador. Perseguem a criança, que é a vítima. E ainda por cima chamam uma menina de assassina.  A sociedade que julgue, que veja qual lado está fazendo o bem e qual está fazendo o mal”, acrescenta. 

O caso da menina ainda está recente na cabeça de Olímpio e ocorre no mesmo mês em que completa 34 anos de medicina, mas é só mais um dos dramas testemunhados por ele em sua carreira. No começo, era contra o aborto. Mas as cenas que passou a testemunhar no trabalho foram mudando sua opinião. “Eu estudei em colégio de padre. Minha família é toda religiosa. Eu sou fruto desse meio. Mas quando comecei a trabalhar, ver o sofrimento humano, você passa a acreditar mais na ciência”, avalia.

MARCAS

  Dentre as histórias que já vivenciou dentro do Cisam, duas o  marcaram: o estupro de uma policial em 1994  e a gravidez de uma menina de nove anos, que morava no Agreste de Pernambuco e era estuprada pelo padrasto, em 2009 – fato que causou sua excomunhão da Igreja Católica: “Esse talvez teve uma repercussão ainda maior que o ocorrido no domingo, porque a história foi para fora do país. No mundo ocidental, as pessoas não são excomungadas por salvar a vida das pessoas. Mas o arcebispo da época excomungou a equipe do serviço”.

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